Aos passantes, desejamos boa leitura.
Aos copistas, desejamos bom proveito.
Aos leitores qualificados, agradecemos, sinceramente

"Desafios"

"A verdadeira medida de um homem não é como ele se comporta em momentos de conforto e convivência, mas como ele se mantém em tempos de controvérsia e desafios"

Martin Luther Kink Jr

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

sábado, 18 de maio de 2013

Um recomeço perdido


Um recomeço perdido

Por Fátima Duran &
Katherine Herdy




             Hoje é o pior dia da vida de João Antonio, hoje, dia 21 de maio de 2013 a esposa de  Antônio se suicidou.Voltaremos ao dia 19 de abril de 2013, para contar a história de Dona Juracema.
             No Sertão da Bahia, onde tudo é seco, não cresce nenhum pau de árvore, numa casa feita de barro, moravam João Antônio, Dona Juracema e seu filho Carlos. Juracema e seu filho estavam sentados no cepo, pensando em quando ia chover, até que:
            - Ocês, cheguem aqui – Disse seu João entrando na casa de barro, com sua alpercata toda esgarçada, calça e uma blusa toda rasgada.
            - Que foi? – Falou Dona Juracema levantando-se do cepo e entrando na casa de barro com seu filho. Juracema usava um vestido de flores simples e seu filho com uma bermuda e alpercata esgarçada.
            - Tive uma ideia porreta! A gente vai para Salvador
            - Deixa de ser abestado homem! – Falou Dona Juracema pensando como João pensou numa ideia dessas.
             - Abestado aqui é tu, nois vamos sim. Visse? – Antônio falou retado porque nenhuma mulher nunca o chamou de abestado ou coisa parecida.
            Juracema estava meio cabreira com essa história, mas por amar o marido obedeceu-lhe. Ela, Carlos e Antônio pegaram suas alpercatas, suas poucas roupas e botaram no aió. Quando acabaram de arrumar, saíram em direção a Salvador, com as roupas que tinham no corpo. Passaram-se horas e horas, o sol já havia desaparecido e a única luz que havia era da lua. Deitaram na areia quente com árvores quentes em volta. Carlos começou a falar:
            - Mãe, tô com fome! Mãe, tô com fome!
            - Deixa de aperreio aí, menino! – João disse acordando do sonho maravilhoso que teve.
             - Calma, homem! Tome, meu filho, um pouco de farinha seca. – Juracema disse pegando no aió um pouco de farinha.
            Enquanto isso, João ficou relembrando do sonho que teve. Nesse sonho, o sol brilhava num imenso céu azul, com pássaros voando livremente por ele, e que acada pingo de chuva que caía sobre o chão rachado, uma árvore nascia dando de volta a esperança e a alegria que ele nunca tinha experimentado. Depois de relembrar o lindo sonho, voltou a dormir com Juracema e Carlos. Ao nascer do sol, eles levantam e continuam sua caminhada até Salvador. Andaram por quase 10 horas até encontrar a cidade.
            - Ave Maria! Chegamos – Disse Juracema com alegria no olhar.
            - Avia, não podemos perder tempo, vamos até aquele bar – Falou João andando até o balcão. Chegando lá disse:
 – Moça, poderíamos dormir no fundo do bar hoje? – João aparentava estar calmo, mas por dentro estava implorando para a moça deixá-los dormir só por hoje.
            - Claro que não! Deixe de ousadia! – A moça aparentava ter 30 anos de idade, tinha cabelos longos cor de fogo, pele tão escura quanto jabuticaba e era mediana.
            - Ô, mais tá! O que está acontecendo no meu bar?! – Chegou falando alto, um senhor varapau, com cabelos grisalhos com pele branca que aparentava uns 67 anos de idade.
            - Nhor, poderíamos dormir aqui por uma noite?
            - Claro que sim, se um de ocês trabalhar para mim, como garçonete e cozinheira.
            - Claro, minha esposa pode trabalhar sim. – João por dentro estava pulando de alegria.
            O dono do bar que se chamava Benedito, junto com a família de João e Ana Lucilene, mostraram onde João, Juracema e Carlos iriam dormir. Logo anoiteceu e todos estavam a dormir. Chegou a manhã, Juracema começou a trabalhar. João saiu à procura de emprego e Carlos na frente do bar, brincava com os ouros meninos. Assim foi a rotina da família de João. Até que Ana Lucilene começou a ser amiga de Juracema e desejar João como marido. Na verdade essa amizade que estava tendo com Juracema era pura enganação para roubar o seu marido.
            Na noite seguinte, enquanto todos dormiam, Ana Lucilene, prepara um ensopado de jerimum, com gotas de veneno para matar Juracema. Quando amanheceu ofereceu a comida a Juracema, mas quem comeu o ensopado foi Carlos. Ao anoitecer Juracema foi dar boa noite ao filho, mas quando viu seu filho estava morto, e não tinha mais como salvá-lo.
        Saiu do bar chorando e gritando para Deus trazer o seu filho de volta, mas ela sabia que isso não era possível. E o único jeito dela se encontrar com o filho era morrendo. Voltou para o bar, quando o sol nasceu e contou tudo o que viu para João, que também estava muito triste pela perda de seu filho, mas não ao ponto de se matar como Juracema.
             - Meu amor, se um dia eu não estiver mais aqui, cuide de Ana Lucilene como você cuidava de mim – Falou Juracema decidida que iria se matar.
             - Tudo bem, mas sei que quando você não estiver mais aqui, também não estarei.
            O dia se passou, com tristeza no ar, Ana Lucilene se arrependeu de ter feito aquele ensopado, mas já era tarde para voltar atrás. Enquanto isso, Juracema estava morrendo, porque enfiou no seu peito uma faca. Na manhã seguinte quem a  encontrou morta no chão da cozinha foi Ana Lucilene e Benedito, mas minutos depois apareceu João, que ao olhar para sua mulher toda ensanguentada no chão da cozinha, com uma faca no peito esquerdo, começou a chorar e percebeu que tinha que cuidar de Ana Lucilene agora, por causa da promessa que teve com Juracema horas antes dela morrer. Mas hoje com certeza é o pior dia de sua vida, dia 19 de abril de 2013.

sexta-feira, 10 de maio de 2013


O soldado do cangaço
Carlos Bahia & João Telles

Jesuíno era um soldado do exército brasileiro que participou da guerra de Canudos e que acabou sendo preso por Antônio Conselheiro. Depois de dois anos como prisioneiro, ele se rendeu à causa de Conselheiro e entrou em sua guerra. Aprendeu diversas táticas de guerrilha e batalha antes de se tornar comunista. Espiando o sol, que no sertão nordestino tirava a água das plantas quase mortas, Jesuíno ia caminhando pela caatinga procurando uma gota d’água ou um pedaço de carniça. A cada passada que ele dava, o seu pé ia quebrando os galhos secos no chão, e seus negros dedos afastavam as moitas do caminho, até que, de dentro do mato seco, ouviu-se um tiro de espingarda. Jesuíno pensou consigo mesmo: “Oxente, o que foi isso? Será que eu tô malucando?”. Com esse pensamento no juízo, ele foi se avizinhando do lugar do tiro. Quando sua vista alcançou o responsável pelo disparo, ele se viu testemunhando um assassinato. Lá havia um homem alto, acocorado com a espingarda na mão, e outro cabra montado em um alazão branco com a crina preta e músculos que até um cego pode ver. Encostado em uma árvore, podia-se ver o corpo de um preto descamisado e com a calça acochada e esmolambada. O atirador agora levantava-se e andava em direção ao seu companheiro no cavalo.
-Pronto, homi. Esse preto brabo não vai mais azuretar nosso juízo. Borimbora, João. – falou o cabra da espingarda para seu companheiro.
-Entocis bora, Alemão. A gente tem ainda que apagar o roteiro desse escravo.
Os dois cabras já tinham ido embora quando Jesuíno falou:
-Que diabéisso? Aquele cabra tinha que tá muito brabo pra meter chumbo num preto desse jeito.
Depois disso, Jesuíno tomou seu rumo de novo. Depois de caminhar muitas horas com sua alpercata rasgada, ele chegou a uma pequena capela feita de palha e barro e gritou com a voz morrinhenta:
-Ô de casa!
            Um homem gordo, vestido de padre com um copo de cachaça na mão, abriu a porta da igreja e falou:
-O que você quer, meu filho?
-Ô meu padre, será que vossemecê tem um tanto d’água pra mim dar?
-Desculpe, meu filho, água não tenho não! Mas tenho cachaça a boléu.
-Serve também, nhõ padre.
-Então não se avexe não. Vamo entrando.
            A igreja era bem precária por dentro. Lá havia alguns cepos espalhados para quem quisesse ver a missa, um altar no fundo com a cruz pendurada na parede, algumas velas apagadas dentro de castiçais pendurados na parede e tudo era iluminado por um buraco no teto de palha, de onde vinha a luz do sol escaldante. O padre gordo entrou em uma camarinha e trouxe dois barris grandes de cachaça.
-Vamos beber!-falou o padre.
-Obrigado, meu padre. Deus lhe pague!
-Me chame de Fabriciano, cabra.
            Depois de muito enfiarem aguardente nos gorgomilos, Jesuíno arranjou um canto para passar a noite, em cima de uma alcatifa. No dia seguinte, Jesuíno acordou pelos barulhos de gritos fora da igreja. Lá ele viu o padre Fabriciano falando aos berros com os dois cabras que Jesuíno viu antes de achar a igreja.
-Ô seu fio de rapariga, seu padre dos infernos! Vossemecê me deve dinheiro!- falou o homem chamado João.
-Tenha fé em Padim Ciço, home! O futuro a Deus pertence- falou o padre calmamente.
-Pois se vossemecê não me der o dinheiro agora, vai saber do futuro com o próprio senhor.
-Me dê mais um dia! Eu lhe imploro por mais um dia.
-Então, como garantia, eu vou botar fogo nessa sua igrejinha.
            Jesuíno saiu de trás da porta, e foi para o lado do padre e falou:
-Por favor, moço, aceite esse trocado como garantia. Deixe a igreja do padre em paz.
-E quem vossemecê é?-falou o cabra chamado Alemão.
-Eu sou coroinha do padre.
-Então amanhã nóis vem pra pegar o dinheiro. Borimbora, Alemão.
            Os dois cabras foram embora, e sumiram no meio do mato. O padre soltou um suspiro de alívio e perguntou a Jesuíno:
-De onde tirou essas moedas, home?
-Eu tava guardando para comprar um punhado de comida.
-Muito agradecido por vossemecê proteger a minha humilde igreja
-Uma mão lava a outra. Mas, seu padre, quem é aquele cabra?
-O cabra mais alto, o barbudo de cabelos ruivos e branco feito farinha é chamado como Alemão. O baixinho quase anão, careca e barbudo que nem Antônio Conselheiro, com aquele jeito brabo de ser se chama João.
-E o que lhes dão direito de robá dinheiro do sinhô?
-Eles acham que essas banda são tudo dele. Ele faz isso com todo mundo por aqui. É um ingrato por tudo que fiz por ele. Aquele preto que você viu morrer, não pagou a eles, acabou morto.
-Pois então tá. Fico muito agradecido pela cachaça e pela hospedagem, mas tenho que seguir o meu rumo.
-Vá pela sombra, meu fio.
            Jesuíno entrou no mato e em pouco tempo desapareceu. Depois de muito tempo de caminhada, a lua apareceu e o sol se escondeu. Jesuíno, mesmo cansado, continuou a caminhar. Pouco tempo depois, ele se viu num pedaço de terra grande com uma enorme plantação de mandioca do tamanho de um campo de futebol e tantas cabeças de gado que a vista não alcançava o final. No meio de tudo isso havia um casarão onde se podia ver dois homens sentados em redes. Quando Jesuíno apertou mais as vistas, conseguiu ver que os dois homens se tratavam dos cabras que tinha visto mais cedo. Um sentimento de raiva subiu ao juízo de Jesuíno, que tirou o facão da bainha, e foi se avizinhando do copiar onde os cabras estavam. Mas antes que pudesse se aproximar, dois pretos com enxadas surgiram em sua frente. Ele tentou um golpe com o facão, mas de repente sentiu um aperto no peito. Quando olhou para baixo, viu que se tratava de um tiro de espingarda que veio de Alemão no copiar. Jesuíno caiu como uma pedra e suas vistas escureceram. Depois disso, ele só sentiu um empurrão pra lá, um puxão pra cá, e quando acordou estava em uma camarinha com somente um candeeiro iluminando o quarto. Em sua frente estavam João e Alemão.
-O que estava fazendo aqui, Coroinha?- perguntou João.
-Eu... Eu... Eu vim aqui pra tirar satisfações do dinheiro do padre.
-Pois então foi aquele usurpador que te mandou aqui, não foi? Vamo falar com ele.
            Logo depois, um preto entrou com o padre Fabriciano amarrado e todo estrupiado.
-Padre... - gritou Jesuíno em tom de preocupação- O que fizeram com ele?
-Nós fomos naquela igrejinha e tocamos fogo em tudo. Há há há!!!- falou Alemão
            Em sua frente, João arrancou um facão da bainha e cortou o pescoço do padre. Jesuíno soltou um grito de raiva, balançou- se para sair da cadeira. Mas os dois cabras safados continuaram a rir. Logo depois, Jesuíno lembrou-se de uma faca atrás das calças, tirou-a e cortou as cordas, levantou-se como um raio e arremessou a faca na cabeça de Alemão, que caiu morto. Com um golpe rápido, soltou um murro na cara de João e tirou o facão da sua mão e enfiou na barriga do preto.
-O que foi isso?- sussurrou João quase cagado de medo- Tenha piedade de mim, homi!
-Mas vossemecê não teve piedade do pobre padre Fabriciano. - falou isso e cortou-lhe o pescoço. Saiu da camarinha e botou fogo em tudo.
            Após queimar a casa de João, Jesuíno passou a noite no curral daquela fazenda. Na manhã seguinte ele soltou os gados e saiu montado no alazão branco de João. Foi até a pequena capela de Fabriciano, onde teve uma surpresa. Lá ele encontrou uma família negra chorando na porta da pequena igreja. O homem, alto e forte como um boi e careca com olhos negros, notou a nova presença e se virou rapidamente berrando:
- Foi o senhor que tacou fogo na igreja do padre?
-Não. Esse daí tá caído morto em sua própria terra!
-Morto?
-Isso mermo, eu matei aquele fio de quenga!
-Mas foi o senhor João que tacou fogo aqui? Eu era escravo dele. Então me deixa me apresentar. Eu sou Fabiano. Minha muiér Ivone e meus dois fio Júnior e Vicente.
-Prazer, Jesuíno, ao seu dispor. Você tem algum pedaço de terra?
-Tenho não.
-Então a terra de João é toda sua.
-Vossemecê fala sério? Fico muito agradecido.
-Não tem de quê!
            Assim Jesuíno seguiu seu rumo se tornando depois o primeiro Lampião.

A IMPRESSIONANTE VIDA NA SECA!

Carol Soussa
Izabela Perin
Álvaro Borges

            Numa noite eu que a chuva fina batia na janela, o vento passava e assustava quem estava perto, um senhor fumava um cigarro de palha e conversava com sua mulher, que fazia renda. Duas crianças chegaram correndo e pedindo que lhe contasse uma historia.
             - Vovô, Vovô, conta uma história para a gente!
             - Claro, meu filho, pegue aquele livro azul que está na estante. - O senhor fala apontando.
            Segurando o livro, ele contava a história com tanta propriedade que parecia que nem necessitava do livro. E os garotos assuntavam calados.
            No nordeste, onde o sol batia forte, dois amigos que sobreviviam à briga dos seus pais por causa das injustiças que Seu Felino, o dono da venda, uma cabra asqueroso que não vivia sem um copo de cachaça e pai de Joaquim, o amigo de Graciliano, um garoto “rico“ que não levava nada a sério, sempre com uma roupa “arrumada”. Os pais de Graciliano eram de uma família pobre, que vivia com roupas acabadas, sofrendo de fome por causa da seca.
            - Graciliano, vem ver o caminhão de madeira porreta que meu pai me deu! – Falou Joaquim.
            Antes que Graciliano possa ver o caminhão novinho de Joaquim o seu pai o chama.
             - Joaquim, arrede daí menino e venha comer.
            Graciliano volta pra casa. Assim que chega em casa vê os seus pais dividindo um pequeno pedaço de rapadura, deixando a maior parte pra ele e comendo apenas os  farelos restantes.
            Depois de ter comido pratos e pratos, Joaquim empanzinado de tanta comida, madorna na rede.
            No dia seguinte, Graciliano acorda com o barulho da sua barriga roncando e se depara ao ver os seus pais mortos no colchão de palha que ficava no chão, ele sai correndo e chorando desesperado e encontra com Joaquim logo na entrada da sua casa. Então ele começou a chorar nos braços do seu amigo e lhe contou toda a história. Joaquim não acreditou e chamou Graciliano para dar uma volta pra esfriar a cabeça. Durante o passeio, sem notar, o tempo passava e nem perceberam que já estava escurecendo, e então se perderam na escuridão do sertão.
            Depois de dias e dias de caminhada, sem achar o rumo certo. Joaquim que não estava acostumado a ficar muito tempo sem comer, começa a passar mal de fome e seu corpo morrinhento estrebuchou na terra. Graciliano, assustado, começa a procurar ajuda com medo de que acontecesse o pior com seu melhor amigo. Quando ele volta já era tarde demais para salvá-lo. Graciliano, bambando, começa a procurar a sua casa desesperado, quando enfim consegue chegar em casa, vê os pais de Joaquim que estavam frustrados a procura do seu filho. Graciliano, sem reação, tenta contar o que aconteceu, mas seu desespero era maior, chorando, enfim, consegue contar-lhe toda a história. Seu Felino, sem forças, cai no chão junto com sua mulher e começam a chorar. Graciliano vai embora pensando o que vai fazer da sua vida, e então ouve alguém o chamando, quando olha pra traz e vê Dona Jussara, a mãe de Joaquim convidando-o para morar com eles.
            - Vocês não acham que tá bom de história por hoje não? Vamos comer! – Falou a avó dos garotos.
            - Vamos, vovô Graciliano!- Falou um dos netos.




Cercados pela seca.
Por Carollina Carvalho
& Bernardo Costa

 É no sertão, onde muita gente enfrenta muitas dificuldades no dia-a-dia, que começa mais uma jornada de dor de uma família nordestina, que trabalha todo o dia para no final ganhar um trocado. Essa é a história da família de João, que tinha o sonho de sair do lugar onde moravam para viver em melhores condições de vida. A família era composta por ele (João), seu pai Antônio, sua mãe Analice e os seus três irmãos, Marcelo, Pedro, e Lucival, que era o caçula da família. João era o irmão mais velho, tinha 11 anos.
Um dia João estava em casa com a família, eles passavam fome constantemente e nesse dia de muita tristeza por não ter o que comer, já que eles não tinha dinheiro para comprar comida, João perguntou a sua mãe:
 - Mãe, por que num tem comida? Quero comer!
            Aperreada, a mãe dá resposta a ele e diz:
- Filho, teu pai tá trabalhando pra trazer uma comida pra nós. Tenha calma!
Logo depois, Analice abre o armário e vê um pouco de farinha e vai correndo dar aos outros filhos que são menores e estão chorando por não ter o que comer. Os meninos comem a farinha e enganam a fome, logo depois conseguem dormir. Já João não consegue dormir, ele já está totalmente desnutrido e fraco, vai até a cozinha ao encontro da mãe e a pergunta:
- Mãe, no céu tem pão?
Não dá tempo a mãe responder à pergunta do filho e já o vê caído no chão, se estrebuchando. A mãe, com o olhar de desespero, sem saber o que fazer, vê o resto de água e resolve jogar no filho numa tentativa inútil de acordá-lo, pois ela achava que era, apenas, um desmaio. Passaram-se dez minutos e João não acordava de jeito nenhum e sua mãe temia pelo pior. Alguém bate na porta e ela vai correndo ver quem é, era Antônio. O pai de João havia chegado com comida e numa felicidade tamanha e pergunta a mulher:
-Analice, chame os meninos, hoje tem comida!
E ela leva ele até João, o pai chama o filho várias vezes. Não obtém de João nenhum sinal de vida, começa a chorar, olha para a esposa e diz com a voz embargada de tanto chorar:
-Ele está morto.  
(Infelizmente esta é a realidade de muitas famílias nordestinas).     

A seca sem dinheiro
Arthur Coelho e Vitor Pedroza                                           

            Em uma região de seca e cinza, chamada Jaguariri, vivia uma família pobre. Nela viviam Jacinto, o pai, jurema, a mãe e a única trabalhadora da casa e os dois filhos: Antonio e Jusimar.
            Jurema trabalhava em um prostíbulo da região. Era uma mulher baixa, gordinha, cabelo crespo e olhos azuis. Apesar de não ser bonita, tinha muitos clientes. Já Jacinto, não trabalhava, ficava em casa dormindo, podia se dizer que era um fracassado.
            Jaguariri era uma região pobre, tudo era seco, com árvores caindo aos pedaços e animais morrendo o tempo todo. A família tinha uma vaca leiteira que a sustentava porque o salário de Jurema não rendia muito.
            Uma coisa que incomodava muito Jurema era o de fato que Jacinto não trabalhava, até o dia que os dois brigaram :
-Ô seu fi de rapariga ! Vá trabaiá homi, fica ni casa sem fazer nada seu folote! A casa de dama não tá dando dinheiro o suficiente para alimentar nossos filhos! Eles estão desmilinguido! Disse Jurema.
            E Jacinto respondeu :
-Ô muie, para de reclamar, cabrunco!
-Vá,peste
            Jurema, enfezada, foi para o trabalho que era a única coisa que lhe dava prazer. Naquele momento, ela só tinha na cabeça raiva e tristeza, pois não gostava de brigar com Jacinto, apesar de todas as brigas os dois se amavam. Ela pensava nas crianças, em ter que viver a situação dos pais brigando.
            Os dias se passaram e a seca aumentava, quando a situação ficou braba, Jurema chegou em casa com uma noticia ruim:
-A casa de damas fechou!
-Mas como vamos viver?! Disse jacinto.
-Nós estamos pobres, mamãe? Disse Antonio segurando Jucimar no colo.
-Gente, nós vamos para Ilhéus, que é cidade grande.
-Ah não, mainha ! Disse Antonio
-Está decidido
            O tempo se passava e cada vez aquele lugar pequeno, que tinham árvores cinzas, esqueletos de animais no chão, era uma tristeza, como um horizonte sem fim,um pano cinza, branco no fundo.
            Finalmente e infelizmente chegou o dia de ir embora, com as sacolas nas cabeças e sem nada pra comer, Jurema pegou um pedaço de pau e colocou na trouxa. Jacinto não queria segurar nada porque dava muito trabalho. Sem cavalo, sem jegue iam andando num sol lascado que só. Andando em silêncio, só ouvindo o barulho do chape chape da alpercata.
            O tempo passou e passou e cada dia eles ficavam mais fracos, já tinham dois dias e estavam perdidos. Passaram os dias e na conta já tinha quatro e nada de chegar. Passaram-se mais de três dias e nada. Jurema já estava preocupada. Passaram-se quase duas semanas e a única coisa que eles viam era seca. A mãe já estava aperreada por que Jucimar estava uma desmilinguida, aparecendo no corpo só as costelas. Até que então a respiração parou e Jucimar bateu as botas. Além do cansaço todos estavam tristes. De repente ouviram um barulho de algo caindo no chão, quando olharam para trás Jacinto estava caído, estava desidratado, com fome, cansado.
            Jurema e filho finalmente chegaram em ilhéus, acabados, fisicamente  e psicologicamente. Jurema começou a trabalhar. E conseguiu um lugar pra eles morarem.Mas nada substituía sua família.

domingo, 28 de abril de 2013


A história do Maluco Beleza
                                                             Por Lara Macedo Torres
                                                                              Júlia Franco Pessoa

``Prefiro ser essa metamorfose ambulante
  Eu prefiro ser eesa metamorfose ambulante
  Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
  Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo...``

            
              Esse era Raul Seixas, um Maluco Beleza que amava o rock and roll, queria ser escritor feito Jorge Amado, e era fã do cantor Elvis Presley.
             Primogênito de uma família de classe média e nascido em Salvador, BA, no dia 28 de junho, Raul Seixas, filho de Raul Varella Seixas e Maria Eugênia Seixas, deixou a vida escolar cedo, logo decidindo pela profissão de músico.
            Desde muito jovem, com 14 anos, já fumava, bebia demais, e consumia todos os tipos de drogas. É conhecido por músicas como: “Maluco Beleza” e “Ouro De Tolo”. Lançou o seu primeiro disco em 1968 “Raulzito e os Panteras”. Seus discos tinham outras músicas de grande repercussão: “  “Metamorfose Ambulante”  e “Mosca Na Sopa”.
            Em 1973 saiu o “krig-ha Bandolo!” apresentando as primeiras parcerias do cantor com o companheiro de estudos esotéricos, Paulo Coelho, com o qual formou em parceria o grupo Sociedade Alternativa. Em 1977 troca a phillips pela recém-fundada WEA , onde passa o período mais obscuro de sua carreira, com 3 LP´S, que deixam a sensação de cansaço .
            Por esse tempo, a saúde do Maluco Beleza, começa a se ressentir dos frequentes excessos alcoólicos que lhe ocasionam uma pancreatite. O penúltimo casamento de Raul vai se rompendo. Sua saúde não anda boa. Mais uma vez ele volta a Salvador, como fez, em 1978 para se recuperar.
            Dia 21 de agosto de 1989, numa segunda- feira, às cinco horas, o cantor parte para outro plano, em São Paulo, por parada cardíaca causada por pancreatite crônica.
            Dalva Borges Da Silva, a empregada do cantor e compositor chega ao apartamento no 1003, do edifício Aliança, na zona central, e encontra ele morto em sua cama.

            Raul Santos Seixas é considerado um dos maiores músicos brasileiros, com uma enorme quantidade de fã-clubes. Em 1990, dia 10 de abril, é lançado o livro “Raul Seixas por ele mesmo”, pesquisado e organizado por Sylvio Passos, e editado pela Martin Claret. Em 29 de setembro é inaugurada a oficina cultural Raul Seixas, no bairro Tapuapé, também em São Paulo, onde o governo do estado de São Paulo, pela secretaria do estado da cultura realiza cursos, seminários, oficinas e outras atividades culturais gratuitamente.
            O Maluco Beleza se foi, pegou seu disco voador e voou para outra dimensão onde todos os Malucos Belezas se encontram após deixarem sua impressão digital no mundo.










O CARIMBADOR MALUCO
Por: Luiza Paixão e Gabriela Almeida

  “Eu do meu lado
        Aprendendo a ser louco
   Maluco total      
 Na loucura real”

28.06.1945. Nasce o maluco, um maluco nada convencional, um “Maluco Beleza”. Raul dos Santos Seixas veio ao mundo na cidade “de todos os santos, encantos e axé”. Seus Pais, Maria Eugênia e Raul Varela, nem imaginavam o que estava por vir.
Quando criança, foi apresentado ao rock pelos vizinhos que trabalhavam no consulado americano no Brasil, e por grandes astros como Luiz Gonzaga, Elvis Presley, Jerry Lee Lewis ele foi influenciado. Este ritmo viria a ser “muito mais do que uma dança”, seria para Raulzito “todo jeito de ser”.
No princípio de sua “Metamorfose Ambulante”, Seixas já frequentava o Elvis Rock Club, onde bebia e usava drogas, nessa época já havia tirado um peso dos ombros e abandonado a escola para se dedicar totalmente à musica.
Em 1960 fundou o grupo Os Panteras, afinal “sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só, mas sonho que se sonha junto é realidade”, e lança seu primeiro LP,”Raulzito e os Panteras”, que acaba sendo um fracasso de vendas. O seu segundo LP, ”Sociedade da Grã Ordem Kavernista apresenta sessão das dez” foi lançado pela CBS, sem autorização, o que o leva a tirar seu cavalinho da chuva e sair da gravadora, por este motivo o disco some misteriosamente do mercado.
Através do Festival Internacional da Canção, em 1972, assina contrato com a Philips/Phonogram, e no ano seguinte lança seu primeiro LP por essa gravadora: “Krig-Ha, Bandolo!”. No mesmo ano conhece Paulo Coelho e inicia as atividades da Sociedade Alternativa.
No ano de 1974 foi exilado para os Estados Unidos juntamente com Paulo Coelho, Adalgisa Rios e Edith (com quem havia trocado alianças até então). O motivo do exílio foram os gibis-manifestos utilizados para divulgar o início da Sociedade Alternativa, em 1973. No mês de junho do mesmo ano retorna para o “país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza”. Apresenta ao público seu LP “Gita”, que finalmente dá a coroa ao rei. Neste mesmo ano desata seus laços amorosos com Edith.
Tempos depois, mais precisamente em 1975, casa-se com Glória Vaquer, pois “fundamental é ser feliz, é impossível ser feliz sozinho”. Em 1976 colhe os frutos de seu amor, quando nasce sua primeira filha com Glória e lança seu último LP com a Philips/Phonogram: ”Há dez mil anos atrás” e encerra a parceria com Paulo Coelho.
Adicionar legenda
Um ano depois o autor de “Mosca na Sopa” se separa de Glória e assina contrato com a Warner Bros. Em seguida volta para a terra da primeira capital do Brasil, com intuito de se recuperar da pancreatite que sofreu em razão do consumo do álcool. Em 1978 o destino trata de juntar os pombinhos: Raul e Tânia.
Doze meses depois rescinde contrato com a Warner Bros e dá um ponto final na sua relação com Tânia, criando margem para a sua relação com Kika, esposa que o acompanhou por sete anos. Um ano se seguiu e envolveu-se com Lena Coutinho.
No ano seguinte seus problemas de saúde começam a interferir em sua vida, acontece que “Papai do céu” estava precisando de uma ajudinha e chamou nosso mestre para auxiliá-lo. Exatamente no dia 21 de agosto de 1989, Raulzito entrega os pontos, deixando seu trono para um sucessor inexistente, pois Raul é e sempre será O rei.


RAUL SEIXAS: O INTRUSO NA RAÇA HUMANA

Por: Thiago Maron de Azevedo
Victoria Lima d’El-Rei Fraga


“Prefiro ser essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo, eu quero dizer agora o oposto do que eu disse antes, eu prefiro ser essa metamorfose ambulante”
“Eu do meu lado, aprendendo a ser louco, maluco total na loucura real, controlando a  minha maluquez, misturada com minha lucidez”
“Eu sou a luz das estrelas, eu sou a cor do luar, eu sou as cores da vida, eu sou o medo de amar”
“Eu que não me sento, no trono de um apartamento, com a boca escancarada cheia de dentes, esperando a morte chegar...” 

Por mais que tentemos trazer a energia incansável para palavras ou pensamentos, nada irá nos contagiar e expressar sua maluquice embelezada, com tanto êxito quanto suas eternas músicas e máximas, que não são uma “metamorfose ambulante”, e continuam até hoje sendo vistas como arte.
A marcante voz de Raul Santos Seixas foi ouvida pela primeira vez através de seu choro em 28 de junho do ano de 1945, na cidade do Axé, enquanto chegava ao mundo para conquistar milhões de fãs.
O privilégio de acompanhar a vida de Raul desde seu início foi exclusivo do austero engenheiro Raul Varella Seixas, e da dona de casa Maria Eugênia Seixas, e ainda de seu irmão mais novo, Plínio Santos Seixas, que ao contrário do Maluco Beleza, seguiu a vida escolar exemplarmente.
A infância do então futuro astro do rock foi marcada por problemas escolares e pelo seu fanatismo excêntrico por Elvis Presley, que foi o principal e talvez único ídolo motivacional para o sucesso de Raul.
As dificuldades de Raulzito nos estudos se iniciaram no Curso Primário na Escola Particular da professora Sônia Bahia, entre 1952 até 1956, quando fundou o Club dos Cigarros.
Ao terminar o curso primário, vai para a segunda série do ginásio do Colégio São Bento, onde repetiu por 3 anos, em consequência de matar aulas visando ouvir Rock-and-roll na loja Cantinho da Música.
Após várias tentativas de passar de ano em vários colégios, sem êxito, funda seu segundo e mais marcante Club, Elvis Rock Club com Waldir Serrão, seu parceiro por muitos anos.
Em 1965, com 20 anos, após passar pelo Colégio Marista e Ipiranga, abandona os estudos e decide se dedicar apenas à sua carreira musical, que já havia se iniciado em 1962, ao criar seu primeiro grupo de Rock: Relâmpagos do Rock. Com tal banda, faz breve apresentações na Tv Itapoan. Um ano depois, insatisfeitos com o nome Relâmpagos do Rock, o trocaram por The Panthers, e futuramente, Raulzito e os Panteras, grupo com o qual gravou em estúdio pela primeira vez, com a música Nanny, de Gino Frey, e também Coração Partido, composta por seu pai. Tais músicas ganharam repercussão um tempo depois de seu lançamento, fazendo a jovem banda crescer ainda mais. Por conta de shows pelo interior da Bahia, torna-se o grupo de rock mais caro do estado.
Juntamente ao sucesso e fama, vem a adoração das mulheres e suas obsessões. Com isso, breves relacionamentos e polêmicas envolvendo garotas se tornam constantes na vida de Raul, que ironicamente se apaixonou por Edith Wisner, mulher americana que a pedido dos pais e por vontade própria, fez Raulzito parar com a vida artística e reatar com os tão odiados estudos. Encandecido pelas chamas do amor, e pondo sua amada a frente de tudo que já havia sido construído em sua vida, decide fazer supletivo e presta vestibular para a faculdade de direito. Toda sua personalidade anormal, parecida ter vindo de Marte, se acanhou diante das infinitas páginas de livros de direito. Por conta de tal dedicação, passa entre os primeiros colocados.
Encantado consigo mesmo e cheio de confiança, tem o pedido de casamento aceito por Edith, e necessitando um sustento para viver, passa a dar aulas de inglês e violão.
Jerry Adriani, um renomado músico da época,  convoca Raul para uma de suas turnês pelo país, e após muita insistência, larga a monótona vida de estudante exemplar e parte para seu tão querido estilo de rockeiro punk, do cabelo crespo e volumoso, da roupa decotada e dos gritos voluptuosos e estridentes. Animado com a ideia de poder ressurgir no passageiro mundo da música, decide reunir novamente o grupo Raulzito e os Panteras, com o qual, também a pedido de Jerry, vai para o Rio de Janeiro servir como banda de apoio. Posteriormente ao carnaval de 1968, animado com a reintegração do grupo, lança seu primeiro LP, com o “criativo” nome Raulzito e Os Panteras.

Extremamente desiludido pela falta de sucesso e pela ausência de seus antigos assíduos fãs, volta para Salvador sem esperanças de um dia alcançar o estrelato.
Em meio a seus colegas de estudo de filosofia, estava Evandro Ribeiro, diretor da gravadora CBS. Aos poucos, a parceria dos dois aumenta, a ponto de Raul ser convidado para ser produtor de discos da CBS. Mais uma vez, desce para o Rio de Janeiro, mais uma vez, com Edith, e mais uma vez, produz com Jerry Adriani, além de Trio Ternura, Tony & Frankie etc.
Ainda no Rio, em 19 de novembro de 1971, tem sua primeira filha, Simone Andréa Wisner Seixas.
Vivendo entre pessoas famosas ligadas à carreira musical, testemunhando gravações de discos e clipes, Raul sente-se tentado a gravar um novo LP, desta vez, pela CBS. Com o pedido negado pela produtora, decide produzir sua mais nova “arte musical” escondido de todos aqueles que poderiam demiti-lo, e com uma invejável perseverança e ousadia, consegue lançar “Sociedade da Grã-Ordem Kavernista”. O LP, por conta da sua forma de execução, apresentou defeitos constrangedores e uma qualidade demasiadamente baixa. Para gravar o back vocal de tal LP, eram chamados os porteiros, faxineiros e muitos outros subordinados da CBS, o que comprometeu o sucesso da produção. Apesar de todos os esforços para a permanência de Raul na produtora, o mesmo foi expulso severamente.
Em 1972, com a vida mais ativa, se classifica no Festival de Canções da Globo com as músicas Let Me sing Let Me Sing e Eu sou Eu, Nicuri É O Diabo, descobrindo aí sua preferência de gênero musical: uma mistura de rockbilly com ritmos nordestino. Após a façanha, desperta o interessa de várias gravadoras, mas a Phillips Phonogram ganha a disputa e lança o compacto Let Me Sing Let Me Sing e Teddy Boy, Rock e Brilhantina.
Com o tempo, o nome Raul Seixas foi ganhando fama mundial em consequência de suas rebeldes letras musicais e seu estilo diferenciado de viver. Em 1973, Raulzito conhece seu futuro eterno parceiro, Paulo Coelho, redator da revista Underground A Pomba. Em junho de tal ano, lança o primeiro LP pela Phillips, que curiosamente foi o primeiro LP gravado em condições ideais; o reconhecidíssimo Krig Ha, Bandolo.
A amizade com Paulo se transformou na criação de uma sociedade alternativa, onde ambos debatiam sobre questões extremamente alienadas e fora de um contexto realístico.
Em 1974, envolvido em muitas polêmicas sobre manifesto, se exila para os EUA com  Paulo Coelho, Edith e Adalgisa Rios. Lá, Raul tem a chance de realizar seu sonho de infância: visitar a casa de Elvis Presley, seu ídolo desde sempre para sempre.
Em julho, Raul retorna ao Brasil já com a saúde debilitada por conta das drogas apresentadas a ele por Paulo Coelho, e grava o LP e videoclipe Gita, que mostrou a divisão do Maluco Beleza pelas ideias alternativas e a crítica social (“eu estava sendo um cristo, botando para fora um Jesus que há em mim e que já me fez gostar de sofrer pelas pessoas”), ganhando o Disco de Ouro merecidamente. Por conta do envolvimento com as drogas e da constância de problemas familiares, separa-se de Edith, que por sua vez, volta aos EUA com a filha do casal.
Passa a ter crises alcóolicas, e se envolve com a irmã do guitarrista de sua banda, Glória Vaquer. Como já era esperado, casam-se, e um ano depois, em 16 de junho de 1976 nasce no Rio a filha do casal, Scarlet Vaquer Seixas , que após a separação dos pais, um ano depois do casamento, vai morar com a mãe Glória nos EUA. No mesmo ano assina contrato com a nova e recém fundada gravadora WEA, ao lado de seu velho amigo Cláudio Roberto. Com tal gravadora, a magnitude dos trabalhos de Raul se expandem ainda mais, e o mesmo lança diversos sucessos, como o até hoje reconhecido vídeo clipe “Maluco Beleza”.
A relação entre Raul e a gravadora se tornou nem tão amigável após acusações vindas por parte do músico a André Midani,  a quem alega escolher produtores desqualificados para produção de suas músicas. Insatisfeito com a “compreensão” da gravadora, Raulzito decide rescindir o contrato e voltar para  CBS, em 1980, desta vez numa posição mais valorizada. Em pouco tempo, foram gravadas diversas canções, e curiosamente davam ênfase ao erotismo e questões menos alternativas.
Em meio as mudanças culturais repentinas e o crescimento da dominância juvenil, Raul sente estar vivendo em um lugar que não “fazia seu estilo”, e o mau-humor se tornou o resultado da alienação realística do mesmo.
Ainda que tivesse passado alguns meses numa fazenda na Bahia para se recuperar dos problemas provocados pelo alcoolismo, em 1978, Raul permaneceu envolvido com tais substâncias fatais, o que não impediu o breve relacionamento que teve com Tânia Menna Barreto. Logo após o fim da parceria amorosa com Tânia, Raul envolve-se com Ângella Maria Afonso Costa, com quem tem uma filha, Vivian Costa Seixas.
Quando ainda era pai de apenas 2 crianças, em 1980, faz uma operação em São Paulo, que resultou na retirada de metade do seu pâncreas. Percebendo que os problemas de saúde aumentavam, foi logo morar em São Paulo.
Em 15 de maio de 1982, Raul foi expulso de seu próprio show em Caieras, ao ser confundido com um impostor de si mesmo, chegando a ser espancado por delegados e policiais.
Um ano depois, sem motivos concretos e/ou válidos, abandona a CBS e assina contrato com a gravadora semi independente  Estúdio Eldorado, em 13 de fevereiro de 1983, e 13 dias depois volta aos palcos com  um estilo de rock n roll primordial, na sociedade Esportiva Palmeiras.
Neste mesmo ano, é lançado pela editora Shogun Editora e Arte, de Paulo Coelho, o livro As Aventuras de Raul Seixas na Cidade de Thor, o primeiro de muitos falando sobre a polêmica vida do Maluco Beleza, que ganhou seu segundo disco de ouro e 1984. Animado com a ideia de fazer um “trabalho preto e branco” para estrear em sua nova gravadora, Som Livre, Raul decide aproveitar o já produzido Metrô Linha 743, que visava expandir  a imaginação do público, e ironicamente, tirar a monotonia do colorido.
Seu penúltimo relacionamento, com Tânia, foi se rompendo aos poucos, e a  saúde de Raulzito piorava a cada dia por conta de seu envolvimento obsessivo com as drogas. Como já fora feito em 1978, vai a sua cidade natal para  recuperação, e pouco tempo após, retorna a São Paulo com uma nova companheira, Lena Coutinho.
Com os fãs no aguardo de novidades estrondosas e que dariam o que falar, o mundo da música parecia se trancar a novas propostas “Raulseíxicas”, impedindo que tomássemos mais um banho de cultura e de críticas sociais por intermédio de suas músicas. Porém em 1985, no estado de São Paulo, o fã clube de Raul Seixas (Raul Rock Club) lançou o álbum Let Me Sing My Rock And Roll, que tempos depois foi híper valorizado por amadores e colecionadores das obras do cantor e compositor baiano.
Apesar dos diversos e constantes problemas de saúde, Raul reúne forças para produzir um de seus últimos LPs, o Uah Bap Lu Lah Béin  Bum!, que foi lançado com um ano de atraso, e trazia nas letras a sua alma de rockeiro (“eu fiz esse disco  para os rockeiros ouvirem, para eles não deixarem o rock n roll morrer...”)
Em 1988, para reafirmar sua permanência no mundo da música, lança o álbum A Pedra do Gênesis, que falava sobre uma de suas velhas ocupações, a Sociedade Alternativa.
Após uma série de 50 shows por todos os lados do Brasil juntamente a Marcelo Nova, Raul lança seu último e não menos importante LP em 19 de agosto de 1989, A Panela do Diabo.
Em 21 de agosto de 1989,  Raul falece em seu apartamento na zona central de São Paulo as 7 horas da manhã, em consequência de uma parada cardíaca, ocasionada pela sua velha pancreatite aguda.
Neste dia, o falso ser humano abandonou no planeta terra seus meros discípulos mortais, e voou como uma mosca em seu poderoso disco voador para algum cantinho do universo, onde todos são malucos, embelezados, sem uma opinião formada, e que vivem cada segundo como se fosse o último de suas vidas.