A TATUAGEM
Juliana Reis & Sofia Senne
Elis Regina, Vinícius de Moraes, Tom Jobim, Cartola, Gal Costa, Maria Bethânia, João Gilberto e Dorival Caymmi. Todos esses nomes citados acima são conhecidos não só no Brasil, mas mundialmente, por suas músicas de qualidade e letras inspiradoras, conquistando uma legião de fãs por todo o mundo, e que também serviram de exemplo para cantores e compositores, de uma nova geração. Dentre esses influenciados, destaca-se por sua flexibilidade, escrevendo peças de teatro, livros e músicas, o cantor e compositor Chico Buarque.
Francisco Buarque de Hollanda, nascido no Rio de Janeiro no dia 19 de Junho de 1944, é o quarto dos sete filhos do historiador e sociólogo Sérgio Buarque de Hollanda e da pianista Maria Amélia Cesário Alvim.
Ainda quando criança, aos dois anos de idade, sua família mudou-se para São Paulo, onde seu pai recebeu um cargo importante de diretor do museu Ipiranga.
O interesse pela música foi despertado na vida de Chico muito cedo, logo aos cinco anos de idade, através de um álbum de recortes de fotos dos cantores do rádio, artistas que ele admirava muito.
Quando em 1953, Sérgio Buarque foi convidado para dar aulas na Universidade de Roma, Chico já tinha um sonho: “Vovó, você está muito velha, e quando eu voltar eu não vou mais ver você, mas eu vou ser cantor de rádio e você vai poder ligar o rádio do céu, se sentir saudades”, disse ele antes de viajar à sua avó Heloísa.
Durante os anos em que viveu em Roma, Chico teve sua casa frequentada por intelectuais e artistas, inclusive alguns, futuros parceiros.
Ainda com dez anos, Chico retorna ao Brasil, onde produziu suas primeiras crônicas, para o jornal do colégio onde estudava. Ele era
sempre visto com clássicos da literatura de diversas línguas nas mãos.
Sua primeira aparição na imprensa não foi cultural, mas policial, publicada no Jornal Última Hora, de São Paulo. Chico fora acusado,
junto a um amigo, de roubar um carro enquanto passeavam pela
madrugada paulista.
Já aos treze anos, Chico compõe suas primeiras canções, na verdade, operetas, que eram encenadas com duas irmãs mais novas.
Também foi nessa época, logo depois que sua família mudou-se para São Paulo, que Chico cogitou um futuro diferente relacionado à sua profissão, jogador de futebol. Mas, desistiu quando percebeu que para isso teria de treinar muito mais.
Além de compositor, músico e escritor, Chico também é dramaturgo. Quando já adulto, escreveu Roda Viva,
Gota D’água, Calabar e Ópera do Malandro, todas fazendo muito sucesso. Como escritor, publicou os livros
Estorvo, Benjamim, Budapeste e Leite Derramado.
Budapeste foi o que mais se destacou entre eles, pois ganhou o Prêmio Jabuti de literatura de melhor livro de ficção do ano.
Chico, quando escreve suas músicas, nem sempre viveu os fatos relatados na canção, mas é incrível e surpreendente como ele consegue, colocando-se no lugar e estado emocional das pessoas, exprimir exatamente as mesmas sensações e pensamentos. Muitas de suas composições se notabilizaram pela aparição de um “eu feminino”, pois retratam temas a partir do ponto de vista das mulheres, com notória poesia e beleza, como Com Açúcar e Com Afeto, Atrás da Porta, Olhos nos Olhos e Folhetim.
Recapitulando, Chico começou sua carreira musical cantando em encontros com os amigos em um barzinho, e batizou o evento de
“Sambafos”, porque evidentemente também consumiu bastante bebida,
além de produzir muito samba.
Em 1964, com o golpe militar em 31 de Março, e logo depois disso a ditadura, comandada por Getúlio Vargas, as pessoas que eram contra saíam nas ruas protestando e provocando a abordagem da polícia: matando, prendendo, torturando ou exilando. Muitos cantores, a exemplo Gilberto Gil e Caetano Veloso foram exilados por conta de suas músicas de protesto, como Cálice, Fé Cega, Domingo no Parque, e Faca Amolada, de Gil e É Proibido Proibir e Tropicália de Caetano. Aconselhado pelo futuro padrinho de uma de suas filhas, Vinícius de Moraes, Chico decidiu exilar-se em Roma. Antes de viajar, Chico havia sido apresentado à Marieta Severo, através de Hugo Carvana, e então, depois de certo tempo de namoro, a convidou para viajar consigo.
Durante esse período de quase um ano na Itália, Chico escrevia,
mesmo distante, as músicas de protesto, desta vez com um tipo de “enredo” que não era importante no conteúdo da música, usando várias metáforas. Servia apenas para ser aprovada pela censura brasileira. Lá, Chico casou-se com Marieta, e teve sua primeira filha, Sílvia.
Após sua volta ao Brasil, ele continuou escrevendo suas músicas, que faziam muito sucesso, entretanto, por seu histórico, ele começou a encontrar dificuldades na liberação das canções, pois havia um tipo de lista das pessoas que já tiveram músicas barradas pela censura, e eles eram “marcados”. Para conseguir a aprovação da canção que ele queria – Jorge Maravilha – criou um pseudônimo, que é um suposto nome muito utilizado por artistas para publicar suas obras. O resultado foi alcançado, ele conseguiu gravar, e só descobriram que “Julinho da Adelaide” e Chico Buarque era a mesma pessoa, quando o próprio, revelou.
Mesmo com 66 anos, Chico continua produzindo músicas, livros, peças, etc., a exemplo de seu último livro, o já citado, Leite Derramado, no qual um senhor conta sobre suas lembranças do passado.
Muitos livros e obras teatrais foram inspirados na vida e arte de Chico, como a biografia escrita por Wagner Homem e a peça Pedaços de Mim, que conta a história do casal Jasão e Joana, mas especificamente da moça, e a peça acontece com Joana e outros personagens coadjuvantes que interpretam diversas músicas do cantor durante a apresentação.
O estudo da vida e obra de Chico por obrigação, fez com que nós, até mesmo involuntariamente, passásemos por esse estado de adoração e apreciação de seus diversos feitios. Nos fez tirar seus discos do fundo da caixa, e ter sede de aprender, tanto a tocar como a cantar suas canções significantes que compõem a música brasileira de qualidade. E é justamente e por essa influência que exerce sobre os profissionais da arte através de suas obras que será inesquecível: “Quero ficar no teu corpo feito tatuagem”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário