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"Desafios"

"A verdadeira medida de um homem não é como ele se comporta em momentos de conforto e convivência, mas como ele se mantém em tempos de controvérsia e desafios"

Martin Luther Kink Jr

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Chico Buarque


Compondo Chico Buarque

por Alexandre Leone & Marcelo Dória



Um período difícil se passava no Brasil. Desde 1964, ninguém mais podia cantar ou compor músicas “impróprias” ou que ofendessem a ditadura que se instalava no Brasil. Mas alguns cantores questionavam essa lei: Entre eles, Francisco Buarque de Hollanda se destacava por sua habilidade lingüística excepcional com composições como A Banda, Roda Viva, Cálice, Apesar de você, entre muitas outras.
Mas nem sempre a vida de Chico foi um mar de rosas. Quando tinha ainda nove anos, seu pai – Sérgio Buarque de Hollanda, historiador e professor – foi convidado para lecionar na Universidade de Roma, e foi preciso levar toda a família consigo. Antes de partir, deixou um bilhete para a avó: “Vovó Heloísa. Olha vovozinha, não se esqueça de mim. Se quando eu voltar você já estiver no céu, de lá mesmo veja eu ser cantor de rádio. Na Itália, estudava em escola americana e já sabia falar as três línguas que a vida lhe trouxera: Inglês, Italiano e Português. Também foi o berço de sua formação musical, com as influências da babá índia quem tinha – passava o dia cantando marcinhas.
De volta para o Brasil, em 55, Chico estudou no colégio Santa Cruz, de padres canadenses progressistas, e escrevia no jornal escolar, o que o levou a acreditar que viria a ser escritor. Porém, foi exatamente esta habilidade lingüística que o levou à música, e com o lançamento do disco “Chega de Saudade”, ele realmente se apaixonou por esse mundo ouvindo Vinícius de Moraes. Logo, já estaria fazendo shows escolares e compondo músicas, como a pioneira Canção dos Olhos.
Em 63, Chico ingressou na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo (na época, o curso de letras era tido como “coisa de mulher”). Com o começo da ditadura, em 64, Chico se envolveu ainda mais com a música, e cada vez mais cheias de questionamentos (talvez influência do internato em Minas Gerais, onde Chico foi mandado pelos pais, em 59, para sair de um movimento conservador), bem ao estilo da ditadura e de seus protestos. Logo executou seu primeiro show, no próprio colégio, e sua irmã maior, Miúcha, o arrebatara de vez para a música, levando-o a bares e a shows à noite.
Já em 66, conhece a mulher que seria sua futura esposa: Marieta Severo. Foi um dos auges de sua carreira. Ganhando prêmios, sem parar de compor e fazendo muito sucesso. Mas esse sucesso é interrompido quando teve que autoexilar-se na Itália, fazendo escala na França para participar de uma feira da indústria fonográfica. Na Itália, Chico estava empacado. Foi uma temporada de um ano difícil, sem o apoio dos fãs, nem a inspiração para compor. Para se manter, gravou um disco com a Phillips, que seria gravado na Itália com os instrumentos tocados no Brasil: O disco que ele, quase com certeza, menos gostou.
Mas Chico tinha ainda outras preocupações: Em 28 de Março, nasceu sua primeira filha: Silvia. De volta ao Brasil, as coisas haviam melhorado: Ele conseguiu driblar a censura e lançar seu novo disco, com a música Apesar de Você, depois proibidas pela censura, com táticas que ele inventara: enviava para a censura uma música com inúmeras estrofes e gravava apenas a parte que lhes interessava.
Após o episódio de Calabar, peça proibida pela censura por engano, Chico teria de fazer algo para que os generais não o prendessem. Inventou um pseudônimo, Julinho de Adelaide, com o qual só compôs três músicas. Em 75, com a terceira filha, cria a peça Gota d’Água, que serviria de inspiração para o espetáculo “Pedaço de Mim”, estreado em 2000. Em 1978, ele vai para Cuba. Ao voltar, é chamado para prestar esclarecimentos aos militares. Também, no mesmo ano, lança uma de suas famosíssimas canções, Cálice. Na exata metade da década de 80, Chico ganha a batalha contra a ditadura e perde o pai.
Depois, mesmo sem lutar na política, continuou compondo, escrevendo, criando e se renovando nesses vinte e cinco anos, aliás, como fez durante toda a sua carreira, responsável por – no mínimo – 8% da libertação do Brasil da cruel ditadura militar. Ano passado, 2009, Chico escreveu seu último romance, Leite Derramado, e esperamos que ele continue compondo, cantando e escrevendo até o último dia de sua vida.


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